segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Um trio de corajosos estudantes abala o Reich com o primeiro movimento popular de contestação a Hitler - Entregue à Gestapo por funcionário de universidade, cúpula é submetida a julgamento político e executada

A mais nobre das traições: Hans (à esq.), Sophie e Christoph em Munique, no ano passado

 Quando criança, o estudante alemão Hans Scholl tinha um ídolo incomum para um menino de sua idade. Ao invés de tentar imitar algum craque do Bayern de Munique ou sonhar com as aventuras dos super-heróis dos gibis, o jovem Hans gostava mesmo era de Adolf Hitler, o chanceler alemão. Sócio orgulhoso da Juventude Hitlerista, cresceu em meio a promessas de retomada da grandeza germânica e conquista da supremacia global. Hoje, está morto. No último dia 22, Hans Scholl, 24 anos, foi decapitado na guilhotina da cadeia de Stadelheim. Seu crime: abandonar a ilusão nazista e ousar criticar seu antigo herói.

Aluno do curso de Medicina na Universidade de Munique, Hans Scholl perdera o encanto por Hitler anos antes. Por influência do pai, Robert - que não caiu na lábia de Josef Goebbels e detestava o nazismo - , o rapaz passou a perceber que oFührer afundaria o país. Ao chegar à universidade, Hans começou a compartilhar suas idéias com os amigos mais próximos - e, para sua surpresa, descobriu que os outros também não suspiravam de paixão por Hitler. Ajudados por Kurt Huber, um professor de Filosofia, os jovens organizaram um movimento de contestação aos nazistas, o primeiro desde que Hitler subiu ao poder e esmagou seus opositores.

A rebelião começou no ano passado, ainda tímida e sempre sigilosa - afinal, falar abertamente contra o Führer é um suicídio na Alemanha atual. Além da vigilância da Gestapo, os jovens enfrentavam a resistência da própria população. Para os alemães, já não importava mais se Hitler estava certo ou errado: uma vez que a guerra estava declarada, sua obrigação moral e cívica era apoiar as tropas. Hans e seus colegas, no entanto, pensavam o contrário: para eles, o dever do cidadão em tempos de guerra é justamente contestar uma liderança política tão desastrosa, principalmente quando ela manda centenas de milhares de soldados à morte.

Ajudado por seu melhor amigo, Christoph Probst, 22 anos, também estudante de Medicina, e por sua irmã, a estudante de Biologia Sophie, de 21, Hans Scholl lançou a revolta espalhando folhetos que criticavam Hitler e pediam um levante popular

contra o tirano. O título do texto, "Rosa Branca", deu origem ao nome do grupo. O impacto foi enorme: as cópias se espalharam e chegaram até a cidades distantes. Vieram novas mensagens, com demanda cada vez maior. Estudantes de outras universidades passaram a distribuir os papéis. E logo os textos eram seguidos de pichações nos muros de Munique: "Fora Hitler" e "Liberdade!" eram as mais freqüentes. A Gestapo, em desespero, caçava dia e noite o grupo. Mas a temida polícia de Hitler não conseguia farejar pistas, apesar de estar lidando com uma improvisada facção estudantil.

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